As Células

.Torrejais, M.M.; Lima, B.; Brancalhão, R.M.C.; Guedes, N.L.K.O.¹

A célula é a unidade estrutural e funcional dos seres vivos, que podem ser formados por uma única célula, no caso dos unicelulares, ou várias células associadas, os multicelulares. Nas células ocorrem todas as funções metabólicas que possibilitam a vida e, com isso, são capazes de manterem sua estrutura organizada, crescerem e criarem cópias delas mesmas pela sua divisão.

Todos os seres vivos, exceto os vírus, são constituídos por célula e, embora haja uma variedade imensa de seres vivos na biosfera, estes são formados por células procarióticas, no caso das bactérias, ou por células eucarióticas, presente na organização de todos os demais organismos (animais, plantas, fungos e protistas). Apesar das especificidades organizacionais as células são delimitadas, ou seja, separadas do meio extracelular, por uma delgada camada composta por moléculas de lipídeos e proteínas, a membrana plasmática.

Enquanto unidade básica da vida, a maioria das células não é visível a olho nu e sua observação só é possível com o auxílio de um equipamento, o microscópio (do gregomicron, pequeno e scopein, examinar).

CÉLULAS PROCARIÓTICAS

Os primeiros seres vivos que surgiram na biosfera, há 3,5 bilhões de anos atrás, eram organismos bastante simples estruturalmente, constituídos por uma única célula com organização procariótica (do grego pro, primeiro e karion, núcleo). O sucesso evolutivo foi tão grande que até hoje muitos organismos são procariotos. Em um grama de solo estima-se que ocorram 40 milhões de bactérias e em 1 mm de água cerca de 1 milhão.

Os procariotos, na sua grande maioria seres unicelulares, compreendem as bactérias (do latim bactéria, solitário). Segundo teorias evolutivas, procariotos deram origem a células mais complexas, as eucarióticas (do grego eu, verdadeiro e karion, núcleo).

As células procarióticas são pequenas, normalmente 10 vezes menores que as células eucarióticas. A morfologia é simples, apresentam um meio interno, o citoplasma, contendo o material genético (DNA, ácido desoxirribonucleico), os RNAs (ácidos ribonucléicos), os ribossomos e toda a maquinaria enzimática necessária ao metabolismo celular. O DNA, normalmente único, se encontra em uma região do citoplasma denominada nucleoide e pode se apresentar fixo à membrana plasmática. Separando o citoplasma do meio extracelular ocorre a membrana plasmática e a parede bacteriana ou parede celular. Outras estruturas podem também estarem presentes dependendo do procarioto.

Além de serem os organismos mais antigos são, também, os mais abundantes, estando presentes em praticamente todos os ecossistemas.

A cavidade bucal é a principal porta de entrada de microrganismos, incluindo as bactérias, no organismo. Estimativas apontam para uma população de cerca de 600 espécies de bactérias colonizando esta região do trato digestório, além de vírus e fungos. A língua, devido a sua organização anatômica, representa um reservatório natural e alguns destes microrganismos podem causar infecções locais e sistêmicas. Porém, a saliva, produzida pelas glândulas salivares apresenta moléculas na sua composição que atuam na proteção e na manutenção de um ambiente estável na boca.

A relação bactérias e seres humanos data dos primórdios da evolução uma vez que o homem e mesmo os outros animais dependem dos micróbios intestinais para a digestão e síntese de vitaminas, por exemplo. Muitas pessoas associam as bactérias a várias doenças graves e até fatais; mas, na verdade, as bactérias patogênicas são uma minoria, sendo a maioria inofensiva ou mesmo benéfica.

As bactérias que beneficiam o ser humano formam a maior parte da microbiota ou microflora normal, têm uma grande influência na saúde e na doença. Microbiota contribui para funções tróficas do intestino (produção de produtos de fermentação e vitaminas, que podem ser usadas por células do epitélio intestinal), estimula a função imune do trato gastrointestinal, transforma excretas e substâncias tóxicas, e protege o corpo contra a invasão por espécies patogênicas.

A microbiota é adquirida pelo recém-nascido durante o parto. O contato com as superfícies, a ingestão de alimentos ou sua inalação também contribuem para a inclusão desta microbiota. Assim, o recém-nascido logo se encontra repleto de bactérias na pele, no trato respiratório e gastrointestinal principalmente, abrangendo uma população de trilhões de bactérias.

Acredita-se, inclusive, que os seres humanos apresentam cerca de 10 vezes mais células procarióticas, que as próprias células eucarióticas que formam a estrutura corpórea. Estima-se, com isso, a presença de 100 trilhões (100.000.000.000.000) de bactérias vivendo no corpo. Esta quantidade aumenta quando adoecemos e quando nossos hábitos de higiene não são bons. Uma bactéria comum no corpo humano é Escherechia coli. De fato, há mais bactérias no mundo do que qualquer outro tipo de organismo, estima-se que ocorra na terra cinco nonilhões (5 x 1030) ou 5.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 de bactéria.

CÉLULAS EUCARIÓTICAS

As células eucarióticas caracterizam-se pela presença de um sistema interno de membranas, o sistema de endomembranas, que se origina evolutivamente de invaginações da membrana plasmática. Este sistema forma compartimentos morfológica e funcionalmente específicos que atuam como “pequenos órgãos” ou organelas, e compreendem o envoltório nuclear, o retículo endoplasmático, o aparelho de Golgi, os lisossomas e os endossomas. A compartimentalização permitiu maior eficiência na execução das atividades metabólicas, tornando a célula eucariótica bastante complexa e sofisticada.

O envoltório nuclear delimita o compartimento mais característico dos eucariotos, o núcleo, cujo principal componente é o material genético (DNA – ácido desoxirribonucleico). Além do sistema de endomembranas, encontramos no citoplasma o citossol, constituído pelos ribossomas, RNAs (ácidos ribonucléicos), centríolos, mitocôndrias, peroxissomos, citoesqueleto e uma série de enzimas e metabólitos.

Em microscopia de luz pode-se facilmente observar na célula eucariótica dois compartimentos: o núcleo, limitado pelo envoltório nuclear e o citoplasma, limitado tanto pelo envoltório nuclear como pela membrana plasmática e parede celular, no caso da célula eucariótica vegetal.

O corpo humano apresenta uma grande diversidade celular, cerca de 250 tipos morfológicos, como os queratinócitos. Estas células estão presentes no epitélio da pele e também no da mucosa bucal, e são especializadas na síntese de queratina (proteína que atua protegendo o epitélio contra agentes agressores); entretanto, esta função pode ou não estar presente na mucosa bucal, pois algumas algumas regiões não possuem queratina. Queratinócitos são facilmente obtidos por raspagem de células da mucosa e, nesta região, as células estão organizadas em camadas sobrepostas, formando um epitélio estratificado pavimentoso. As células da camada basal dividem-se continuamente por mitose, diferenciam-se e são empurradas em direção à superfície, onde morrem e são descamadas. Durante a diferenciação as células acumulam queratina no citoplasma e perdem organelas e estruturas celulares, inclusive o núcleo. Assim, algumas células na camada apical deste epitélio, e que são retiradas na raspagem para produção de lâminas, se apresentam sem núcleo e o citoplasma com precipitações muitas das quais a queratina. Ressalta-se também que o próprio método de preparo impõe alterações nas células, com dobramento e lise.

Bibliografia utilizada:

ALBERTS, B.; BRAY, D.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WATSON, J.D. Biologia Molecular da Célula. 5. ed. ARTMED, 2009.

BRANCALHÃO, R.M.C.; SOARES, M.A.M. Biologia Celular Básica: Técnicas e Atlas. Edunioeste, 2010.

DE ROBERTIS; DE ROBERTIS, J.R. Bases da Biologia Celular e Molecular, 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. 9. ed. Guanabara Koogan 2012.

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia Básica: texto e atlas. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

¹ Como citar:

  • Nas referências: TORREJAIS, M.M.; LIMA, B.; BRANCALHÃO, R.M.C.; GUEDES, N.L.K.O. Tecido epitelial, 2016.
  • Disponível em: . Acesso em: 16 de jul. 2016. (conforme data de acesso ao site);
  • No texto: Torrejais et al. (2016) ou (TORREJAIS et al., 2016).

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