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Impacto das cotas no curso de Medicina da Unioeste

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Elza Corbari é mestre em Ciências Sociais pela Unioeste, membro do Grupo de Pesquisa em Políticas Sociais e Servidora da Universidade. Elza, analisou o impacto das cotas no curso de Medicina do Campus de Cascavel, e, para tanto, o estudo se concentra no perfil dos estudantes do curso, desde a sua implantação em 1995, até 2018. Sendo de 1995 a 2008 período sem cotas e de 2009 a 2018 com cotas.

De acordo com o resultado da pesquisa, houve grande impacto da política de cotas no curso de Medicina, com elevação de 346% do número de estudantes de escolas públicas. O estudo revelou também que os estudantes cotistas incluídos no curso de Medicina: possuem renda familiar mais baixa; ingressam, em média, um ano mais velhos; a maioria é de origem da própria cidade de Cascavel e região; o percentual de formados é semelhante ao dos não cotistas e possuem rendimento acadêmico equivalente aos dos não cotistas. Segundo a pesquisadora, ficou comprovado que uma vez incluídos, estes estudantes não interferem, negativamente, na qualidade do ensino da Instituição, desmistificando a ideia de que os cotistas, possivelmente, baixariam o nível de ensino nas universidades.

Cotas

O Curso de Medicina do Campus de Cascavel, iniciou, efetivamente, suas atividades no segundo semestre do ano de 1996, após autorização oficial do Governo do Estado do Paraná, portanto, considerando que o vestibular da primeira turma ocorreu no início de 1995, o estudo considera turmas a partir do ano de 1995, sendo de 2009 a 2018 o período com cotas.

Segundo a pesquisadora, os dados utilizados para avaliar o impacto das cotas no curso de Medicina são os dados do sistema gestor acadêmico da Unioeste, denominado “Academus”, que gerencia as informações acadêmicas dos estudantes da Universidade. Dados mais especificos foram fornecidos em tabelas pelo Núcleo de Tecnologia da Informação da Unioeste (NTI).  O recorte da pesquisa são os ingressantes do período de 1995 a 2018, num total de 927 ingressantes, porém, 88 destes entraram por meio de transferência, ou já eram portadores de diploma de curso superior, sendo estes excluídos da pesquisa, assim permaneceram 839 estudantes para a base do estudo.

Impacto das cotas

Muitos programas foram desenvolvidos ao longo do tempo, tais como FIES e Prouni, nas instituições privadas, e sistema de cotas, nas instituições públicas. Por meio desse sistema tem se estabelecido um número mínimo de vagas das universidades públicas a ser preenchido, necessariamente, por estudantes de escolas públicas, com o intuito de permitir o acesso de pessoas oriundas dos segmentos sociais mais afetados pela exclusão social. Na Unioeste, o impacto das cotas não ocorreu somente no curso estudado, mas também nos demais cursos da Universidade, conforme Elza.

De forma geral, é possível observar que os cursos que possuem maior impacto das cotas também possuem alta concorrência pelas vagas no vestibular, constatando-se que, sem as cotas, grande parte dos estudantes de escolas públicas jamais ingressaria na universidade pública. Portanto, o estudo revela que a política pública de cotas aplicada, gerou grande impacto na Universidade e está cumprindo com o seu objetivo principal que é a inclusão de jovens oriundos de camadas populares com fator socioeconômico mais baixo, principalmente no curso Medicina, foco do estudo.

De acordo com dados da pesquisa, Medicina é o curso que apresenta maior impacto das cotas  na Unioeste, com grande elevação do número de estudantes de escolas públicas, que passa de uma média de 10,5%, para 46,9%, um impacto de 346,7% de aumento de estudantes da rede pública de ensino, enquanto que o percentual de estudantes de escolas privadas cai de 89,5%, para 53,1%.

Durante 12 anos a Universidade mantinha o curso para uma clientela elitizada, supostamente, oriundos de famílias de condições de bancar estudos de nível médio privados.  Portanto detentores de uma melhor formação básica, em escolas com mais qualidade, em relação as públicas, acabavam por ocupar quase a totalidade das vagas de Medicina. Com a criação das cotas, a aproximação entre número de estudantes de escolas públicas e privadas é notável, chegando a um grau de igualdade nos anos de 2017 e 2018, pois a partir do ano de 2014, a reserva de vagas passou de 40 para 50 por cento, ilustrado no gráfico a seguir na Figura 1, (elaborado pela pesquisadora).

Figura 1 – Comparação de ingressantes de escolas públicas e privadas 1995 a 2018.

cc
Fonte: elaborado pela autora

Conclusões

Os resultados da pesquisa de Elza apontam que a política de cotas gerou um grande impacto no curso de Medicina do Campus de Cascavel, com um percentual de 346% de aumento de estudantes de escolas públicas. Isso promoveu uma notável alteração no perfil dos estudantes, pois, antes das cotas a presença de estudantes de escolas públicas era baixa ou quase não existia, e, após as cotas, esse número se elevou largamente e atualmente constituem um grau de igualdade por conta das cotas.

O perfil dos estudantes sofreu alteração depois das cotas. Verificou-se que antes das cotas havia em torno de 21% de estudantes com origem da cidade de Cascavel, e, depois das cotas o percentual subiu para 38,2%, na categoria dos cotistas e 55,7% dos não cotistas. Portanto, considera-se que a Unioeste está atendendo, em grande parte, a sua demanda local e regional.

Os estudantes cotistas ingressam na universidade, em média, um ano mais velhos que os não cotistas. Enquanto que o não cotista ingressa com média de 19,3 anos, o cotista ingressa com 20,3 anos. A hipótese é de que devido a imensa concorrência e dificuldade de ingresso, os estudantes de escolas públicas passam mais tempo se preparando para o exame de seleção e com isso o ingresso é retardado, entrando na universidade um pouco mais velhos. Esses estudantes são predominantemente brancos, com média de mais de 85% e a presença de estudantes de cor ou raça amarela, parda e preta, não chega a quatro por cento neste curso.

No que se refere ao desempenho acadêmico (medido por meio das notas obtidas nas disciplinas), percebe-se uma pequena diferença, a média dos estudantes cotistas é de 77 pontos e a dos não cotistas 80 pontos. Uma diferença de 3 pontos, que equivale a menos de 4%, portanto, sem grande relevância, presumindo não gerar impacto negativo da qualidade do ensino deste curso.

Portanto, a pesquisa revela que a política pública de cotas aplicada na Unioeste, causou grande impacto no curso de Medicina, permitindo uma singular oportunidade aos estudantes de escolas públicas concorrerem e ingressarem em um dos cursos mais almejado, senão o mais, entre os cursos superior existentes. Uma chance que representa 346% a mais de possibilidade de sucesso no vestibular e que sem as cotas mais de 84% destes estudantes estariam fora deste curso e da universidade. Neste cenário, a Instituição se torna um espaço de heterogeneidades e diversidade em seu meio acadêmico, contribuindo para a construção de uma sociedade democrática e diversificada e menos desigual. Uma fez formados esses estudantes poderão contribuir para uma possível transformação social no espaço de sua origem.   

Fotos: Andréa Pasquetti 

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