Pesquisador da Unioeste transforma resíduos da tilápia em alimentos funcionais
No campus de Toledo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), um projeto de pesquisa está mudando a forma como os reaproveitamentos da tilápia são vistos na cadeia produtiva de alimentos. O trabalho é conduzido por pesquisadores do programa de Pós-Graduação em Engenharia de Pesca, que há alguns anos investigam maneiras de reaproveitar partes da tilápia para outros produtos funcionais.
A tilápia é o peixe mais cultivado no Paraná. Grande parte do produto é destinada à comercialização do filé, o que resulta em um volume significativo de resíduos, como pele, espinha, cabeça e vísceras. Foi nesse contexto que o pesquisador, Maiko Scheibel, viu uma oportunidade de propor soluções para o setor.
A pesquisa começou no mestrado do estudante, Maiko Scheibel, onde teve a ideia de transformar esses resíduos em novos produtos alimentícios. A primeira linha de trabalho foi o desenvolvimento de uma barra de cereal proteica a base do reaproveitamento do pescado. “Sou formado em gastronomia, portanto trouxe esse olhar diferente para o programa de Pós-Graduação, quando comecei no mestrado vi a possibilidade de usar o peixe na forma fracionada como um produto, a partir disso identifiquei que o aproveitamento do pescado era bem baixo em torno de 35%. Então comecei a entender o que podia se fazer com o restante, como agregaria no mercado, o público que poderia alcançar”, afirma.
Finalizado o mestrado, o pesquisador que atualmente é doutorando no programa de Pós-Graduação em Engenharia de Pesca da Unioeste, pretende seguir com a pesquisa. “Pretendemos ampliar o estudo, potencializar o aproveitamento do pescado na indústria da filetagem, temos a expectativa de aproveitamento em torno de 60% do peixe com a nossa pesquisa. A partir de diferentes produtos como: farinha base na produção de granola e barra de cereal, base proteica para ensopados e temos a linha fitness e oncológicas”.
Segundo o pesquisador, a ideia central do projeto é promover o aproveitamento integral do pescado futuramente. Ele destaca que os resíduos representam um desafio ambiental e econômico, e que o uso de tecnologias simples e acessíveis pode contribuir com a sustentabilidade da cadeia produtiva. O objetivo não é apenas reduzir o desperdício, mas criar uma lógica de aproveitamento, com foco na nutrição e na inovação alimentar.
Os resultados apontam um aumento no teor de proteína sem comprometer as características sensoriais. A proposta é utilizar a farinha a base da extração da carne mecanicamente separada (CMS) como reforço nutricional, principalmente em produtos voltados para merenda escolar e programas de segurança alimentar. “Atualmente estamos trabalhando com as sobras ósseas do pescado, onde vimos a presença de uma maior quantidade de proteína, cálcio, gordura, a partir disso estamos desenvolvendo novos produtos”.
No laboratório da Unioeste, a tilápia deixa de ser apenas um peixe para se tornar símbolo de inovação. Com trabalho colaborativo e foco em sustentabilidade, resíduos ganham valor e se transformam em produtos que podem voltar à mesa das pessoas. O ciclo se fecha, mas a pesquisa continua.
Texto: Alexsander Marques