Uma reflexão sobre o legado e sucessão do Papa Francisco
A manhã do dia 21 de abril começou mais silenciosa no Vaticano. Bandeiras a meio-mastro e sinos ecoando em luto anunciaram ao mundo a notícia: faleceu o Papa Francisco, o primeiro pontífice jesuíta e latino-americano da história. Aos 88 anos, Jorge Mario Bergoglio encerra um dos pontificados mais simbólicos e controversos do século XXI. A comoção é global, mas a repercussão ultrapassa os limites da fé. Em Toledo, no Oeste do Paraná, a notícia também mobilizou reflexões acadêmicas.
Para compreender as implicações mais profundas da morte de Francisco, o professor do curso de Filosofia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Toledo, Remi Schorn, realiza uma análise que transcende o luto imediato e mergulha nas raízes filosóficas do papel do Papa na contemporaneidade.
Ao refletir sobre a morte de Francisco, o professor aponta que ela representa mais do que a morte de uma liderança: é o encerramento de um ciclo de muita abertura e diálogo com o mundo. “De forma geral podemos dizer que perdemos um pai, tanto teórico como de referência prática. Uma inspiração muito forte que em certa medida proporcionava uma segurança para o conjunto da comunidade católica, especialmente para aqueles setores da sociedade que se preocupam com os menos favorecidos.”
Na tradição filosófica, a ausência pode ser mais potente que a presença. Como dizia o filósofo alemão Martin Heidegger ao lembrar que a morte é sempre uma revelação sobre o próprio ser. O Papa Francisco se tornou essa potência ao longo dos 12 anos que esteve à frente da Igreja Católica e sua partida física não impedirá a reverberação de seu exemplo.
“Eu gosto de um termo que se chama kybernētēs que é um termo grego para piloto ou timoneiro, que é esse sujeito que em certa medida ilumina o conjunto de indivíduos, para uma trajetória que a maior parte das pessoas não tem noção de como fazer e o Papa Francisco fez isso de uma forma magnífica, porque ele se transformou nesse feixe de luz, nesse kybernētēs filosófico, produzindo na comunidade uma referência de inclusão”, sugere Schorn.
Segundo o professor, o pontífice abriu as portas não só do Vaticano, mas das igrejas católicas em geral. “Francisco deixou entrar pelas portas das igrejas um conjunto de pessoas que nem sempre os membros tradicionais estavam dispostos a conviver”.
Questionado sobre o perfil ideal do próximo pontífice, o docente é cauteloso, mas enfático: “Como toda Instituição (Igreja Católica), está em disputa, nós temos um conjunto de pessoas mais preocupada com as áreas sociais, porém a Igreja também vai buscar um certo equilíbrio e tem uma leitura em determinados setores que o Papa Francisco foi radical a uma determinada direção, então podem acreditar que o equilíbrio precisa ser refeito”, diz.
Texto: Alexsander Marques/Foto: Pixabay