Unioeste no Show Rural: Pesquisa da Unioeste sobre cabelo humano em adubo é apresentado no maior evento agroindustrial do Paraná
Estudo utiliza fios de cabelo descartados para produzir adubo sustentável, promovendo economia circular
O que fazer com cabelos humanos descartados em salões de beleza e barbearias? Foi a partir desta dúvida que a mestranda em Ciências Ambientais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Toledo, Gabriela Martines Gimenes, que trabalha como cabeleireira há 13 anos, decidiu realizar uma pesquisa acadêmica, que além de contribuir com a sociedade, beneficia a rotina destes profissionais.
A pesquisa está sendo realizada em parceria com os docentes da União Educacional do Médio Oeste Paranaense (UNIMEO) em Assis Chateaubriand, e já apresenta resultados preliminares promissores. O trabalho da estudante é um dos destaques no estante da Unioeste durante o 37º Show Rural que acontece entre os dias 10 e 14 de fevereiro em Cascavel.
Os resíduos capilares demonstram grande potencial como recurso benéfico para as plantas, devido à presença de nitrogênio em sua composição química. O cabelo é formado por queratina, uma proteína fibrosa rica em aminoácidos, composta por elementos como carbono, enxofre, oxigênio e nitrogênio. Essas propriedades fazem do cabelo uma excelente alternativa para enriquecer o solo, promovendo a atividade dos microrganismos, além de contribuir para a nutrição e o desenvolvimento das plantas.
A estudante comenta que a expectativa é compreender melhor os resultados da pesquisa e, a partir disso, desenvolver um produto inovador. “Meu maior anseio, no entanto, é contribuir para transformar o setor econômico dos salões de beleza e barbearias em empresas sustentáveis, pois acredito que o setor já busca essa mudança. A transformação no modo de descarte e no aproveitamento de seus resíduos seria um passo inovador e disruptivo”, diz.
“No evento, estou explorando as oportunidades que surgirem, desde apresentando a ideia de aproveitamento dos cabelos, com o objetivo de sermos um grupo pioneiro nesse segmento, até buscar conexões que possam fortalecer essa iniciativa. Vejo o evento como uma excelente oportunidade para a pesquisa encontrar parcerias capazes de elevar esse projeto a um negócio sólido e rentável. Porém, nunca deixando de lado o propósito principal: proporcionar ao resíduo uma destinação correta e sustentável”, menciona a estudante.
A pesquisa tem um grande potencial, especialmente no mercado brasileiro onde o cuidado com a autoimagem é um valor cultural significativo. Não por acaso, o Brasil ocupa posição de destaque no mundo e está entre os países mais vaidosos. O setor capilar movimenta valores importantes para a economia nacional, como por exemplo na produção de perucas, mesmo assim ainda é pouco visto em ações sistêmicas voltadas ao gerenciamento ambientalmente seguro desses resíduos sólidos.
O docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Unioeste e orientador da estudante, Cleber Antônio Lindino, menciona que a possibilidade de utilizar o resíduo de uma atividade produtiva dos salões de beleza como matéria prima em outra, no caso, a agronômica, se enquadra bem no conceito de economia circular. “Contribuindo para o ambiente, não só evitando o descarte incorreto do resíduo, como também diminuindo a necessidade de fertilizantes químicos, que em excesso, podem impactar os ecossistemas. Também pode se tornar um modelo de negócio, beneficiando a sociedade duplamente”.
“Na minha opinião, já é hora de o setor de beleza ser incluído na era da sustentabilidade. Todos os segmentos econômicos estão sendo desafiados a adotar práticas mais responsáveis, e o setor da beleza não pode ficar de fora. Além disso, quando olhamos para o agronegócio, percebemos outra grande oportunidade. O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes no mundo, mas sua produção própria representa apenas 2% da produção global, o que nos torna altamente dependentes de importações, especialmente de matérias-primas como o nitrogênio. Este elemento, presente em grande quantidade nos cabelos, pode reduzir significativamente os custos da produção nacional de fertilizantes”, explica Gabriela.
A acadêmica ainda destaca que o reaproveitamento dos cabelos como uma fonte alternativa de nitrogênio orgânico promove ganhos ambientais e econômicos. “Se implementado, esse tipo de produção pode posicionar o Paraná como pioneiro em um segmento totalmente inovador e sustentável, alinhando-se às demandas do mercado por soluções ecológicas e econômicas”, finaliza.
Texto: Alexsander Marques