Unioeste trata pacientes no pós-cirúrgico de câncer de mama
Em histórias de câncer dizer: o que é o acessório? se temos o essencial: a vida. Esta frase consta em muitos livros de autoajuda, roteiros de filmes, artigos, entre outros, mas quando a palavra sai do território semântico e passa para a realidade em pacientes vítimas de câncer de mama, o contexto é bem mais complexo.
No corrente mês, chamado de outubro Rosa, há um movimento internacional de conscientização para o controle deste tipo de câncer, criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G Komem for the Cure.
Para auxiliar e tratar a realidade de pacientes com mastectomia, o Centro de Reabilitação Física (CRF), vinculado ao curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste de Paraná (Unioeste), no Campus de Cascavel, realiza acompanhamento de pacientes submetidas à mastectomia, num trabalho interrupto, via Sistema único de Saúde (SUS), sob supervisão da Professora Doutora Juliana Frare.
Neste outubro, trazemos o depoimento, da secretária de Maristela Silveira, de 55 anos, chamada carinhosamente de Estela, em um misto de dor e superação. Ela tem muito a contar sobre cirurgias de amputação numa realidade que já dura sete anos e, no momento, está livre do câncer e faz profilaxia oral.
Paciente regular do CRF há quatro anos, Estela relata que tudo começou com um câncer agressivo no útero, em 2017, quando ela fez uma histerectomia radical, tirando todos os órgãos reprodutivos e uma parte da pelve. Depois encarou seis ciclos de quimioterapia pesada, 28 seções de radioterapia e quatro de braquiterapia. Em 2020, acreditou estar curada. Porém, num momento em casa notou um nódulo em uma das mamas. Voltou ao médico, novamente um nódulo insidioso numa mama e no outro, muitos pontos, no que ela disse “meu seio acendeu como uma árvore de Natal, cheio de pontos do câncer”.
Estela tirou uma força inimaginável e voltou para a mesa de cirurgia para um procedimento ainda mais drástico: mastectomia dupla radical, seguida de quimioterapia e radioterapia. A radioterapia foi tão agressiva que não foi possível reconstituir as mamas e pela pele sensível não consegue nem usar prótese externa. “Quando eu olho no espelho me sinto mal, triste. Respiro, me encho de coragem e sigo”.
Com a retirada das mamas, teve trombos nos braços e outras sequelas, mas conseguiu em função da fisioterapia está retomando os movimentos. “Teve um tempo que pensei em desistir. Foi tanta dor, tanto desespero, fui tomada pela depressão e pela ansiedade. Aí penso preciso continuar. Continuo”.
Ao contar, Estela coloca uma das mãos na cicatriz, e diz que se não fosse o trabalho da Unioeste e os amigos que fez no CRF não teria suportado porque mora sozinha e além do câncer. “Todos aqui cuidam de mim”.
Ela diz que a esperança vence o medo do desconhecido e, por amor à Patrícia, sua devotada filha de 27 anos, vive um dia por vez. “O carinho que recebo aqui na Unioeste foi tudo para mim. Estou há três anos e venho toda a semana. O dia de vir aqui é um dia de alegria para mim. Com a reabilitação estou retomando meus movimentos. A minha gratidão é imensa”.
A coordenadora do atendimento diz que o trabalho é motivo de orgulho na CRF. “Não temos dimensão de quantas mulheres atendemos desde que o serviço iniciou. Aqui além do trabalho de reabilitação também doamos nossa solidariedade, nosso apoio, e todos acabam se envolvendo, professores e alunos. Continuamos no firme propósito de sermos um tratamento fundamental para estas mulheres”.
Fisioterapia
A Fisioterapia na Unioeste é realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e faz parte de uma série de atividades destinadas à saúde da mulher. As pacientes devem ser encaminhadas pelas Unidades Básicas de Saúde dos municípios que compõe a 10ª Regional de Saúde.
Juliana Frare, especialista em fisioterapia na saúde da mulher, explica que durante o tratamento do câncer de mama, grande parte das mulheres são submetidas a procedimentos cirúrgicos, a chamada mastectomia, a qual pode ser mais ou menos agressiva, dependendo do estágio de diagnóstico do tumor, bem como a procedimentos de quimioterapia e radioterapia. O CRF também oferece às pacientes mastectomizadas, mediante solicitação médica, próteses de uso externo (sutiã) para serem utilizadas enquanto não ocorrer a reconstrução mamária.
Segundo a professora, quaisquer dos procedimentos utilizados para o tratamento do câncer de mama podem afetar, e muito, a qualidade de vida das pacientes. Entre as consequências estão, em especial, os movimentos do braço e ombro, o que leva a restrições na realização das atividades de vida diária, como se vestir, tomar banho, pentear os cabelos, entre tantas outras funções da mulher.
Independentemente do tipo de procedimento cirúrgico realizado, a prática de exercícios físicos terapêuticos após a cirurgia ajuda a restabelecer os movimentos e a recuperar a funcionalidade e a força no braço afetado, além de prevenir complicações como linfedema, dores e desconfortos em pescoço e coluna.
O profissional fisioterapeuta também orienta paciente sobre os cuidados diários após a mastectomia. É por meio de procedimentos como exercícios, alongamentos, terapia manual e relaxamentos, as sessões estimulam a circulação, a cicatrização, diminuem a dor, previnem complicações e ajudam a recuperar a postura adequada.
O acompanhamento fisioterapêutico de pacientes submetidas a tratamento para câncer de mama, é realizado desde o início das atividades da clínica. “É um trabalho inominável. Atendemos pacientes que foram operadas há 20 anos e até hoje tem sequelas do tratamento”, diz a professora.
O CRF conta como uma equipe multiprofissional composta por enfermeiro, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta que poderão proporcionar as pacientes um atendimento global. “A cirurgia, além de uma agressão estética, afeta a função do braço, causa edema, dor e dificuldade nos movimentos. Cada paciente tem um tipo de reação e estamos preparados para atender cada especificidade”.
Neoplasia de mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todo o mundo, sendo 1,38 milhões de novos casos e 458 mil mortes pela doença por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
No Brasil, o Ministério da Saúde estima 60 mil casos novos em um ano. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Mastologia, cerca de uma a cada 12 mulheres terão um tumor nas mamas até os 90 anos de idade.
Atendimento
O Centro de Reabilitação Física - CRF - da Universidade Estadual do Oeste de Paraná - UNIOESTE, é um órgão prestador de serviços de reabilitação e caracteriza-se como serviço de média complexidade, dispondo de avaliação e tratamento de pessoas com comprometimento físico. Possui uma equipe multidisciplinar para o desenvolvimento de um conjunto de atividades individuais e/ou em grupo, acompanhamento especializado, funcional e orientação familiar, incluindo disponibilização, treinamento e acompanhamento de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção.
Outubro Rosa é uma campanha mundial voltada para a conscientização e prevenção do câncer de mama, que busca alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce da doença. No Brasil, essa mobilização tem grande relevância, especialmente pela alta incidência de novos casos. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que 73, 6 mil novos casos até 2025 com uma taxa de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres, e que a doença cause 18 mil mortes. Embora rara, a doença também pode acometer homens, representando cerca de 1% dos casos.
O câncer de mama ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil, com taxa de mortalidade ajustada por idade, pela população mundial, para 2021, de 11,71/100 mil (18.139 óbitos).
Texto: Mara Vitorino/ Fotos: Pedro Philippus