Central de Notícias

Doação de órgãos: HUOP é cenário para história de amor e gratidão

Jandira e Claudete, duas mulheres e um roteiro que supera o entendimento humano

O Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), em Cascavel, é um lugar de histórias extraordinárias de vida. Neste Dia Internacional de Doação de Órgãos, um roteiro emocionante e “sobrenatural” é contado por duas funcionárias do complexo hospitalar: Jandira Aparecida da Silva, 43 anos e Claudete Maria Kauva, 52 anos, receptora de córnea e a mãe do doador do órgão, respectivamente.

Quando a legislação permitia, Claudete quis conhecer o receptor da córnea do filho e, por uma coincidência, era uma colega de trabalho. “Quando me ligaram da Central, um sentimento tomou conta de mim, algo me dizia que eu teria que conhecer a pessoa que recebeu o “olho” do meu filho”. Pelos corredores, poucos sabem, mas há 10 anos, Jandira, vítima de cerotocone, recebia a córnea do filho da também funcionária, Claudete Maria Kauva, Eduardo Kauva, que morreu aos 17 anos, depois de levar um tiro de um guarda municipal da cidade. Claudete conta que o filho dizia, “mãe quando eu morrer quero doar meus olhos para uma moça bem bonita”, relata, entre uma lágrima e outra. E a moça foi Jandira, na época com 33 anos. Neste dia 27, Jandira faz aniversário e sabe bem o que significa a gratidão, pois foi a córnea do filho de Claudete Kauva que a permite enxergar o mundo com nitidez A história é contada, em meio a pausas para lágrimas e um respirar profundo das duas. Segundo elas, a doação de órgãos provou que, para além da ciência e da medicina, laços afetivos são formados para toda a existência. Jandira, conta que por causa da doença sua vida até os 33 anos foi muito limitada e ela não conseguir ter uma vida normal. Depois de receber a córnea, pôde enxergar o mundo. Ao contar o antes e depois da doação, afirma que algo é muito especial. Poder maquiar os olhos diariamente e passar rímel. “Hoje meus olhos são minha direção e eu me sinto mais bonita quando me maquio, coisa que eu nunca podia fazer. Via minhas amigas e não podia”, relata ela, que ostenta um cílio postiço com toda graça.

A coincidência

A história de Claudete e Jandira tem uma trama que ultrapassa o entendimento humano. Porém, não ficam buscando respostas, apenas vivem o elo que as fazem mais do que simples amigas. É que o destino dessas duas mulheres se cruzou para sempre porque Claudete é mãe do rapaz que doou a córnea para Jandira, exatamente 10 anos atrás.

Segundo as duas, não é coincidência, é o Universo mostrando o poder da gratidão. Jandira só teve esse sentido restaurado por conta da doação do filho de Claudete, morto há 10 anos vítima de um tiro, de um guarda municipal de Cascavel. “Eu olho para ela e vejo um pouco do meu filho. Para mim é um presente. Não tem como descrever a dor de perder um filho, mas saber que um órgão dele ajudou outra pessoa me conforta” Todos os anos, no Dia Internacional de Doação, é mais que apenas uma data, é uma reverência à vida. Em tempos, que amor e gratidão, parece ser apenas roteiros para livros, filmes, novelas e outros discursos artísticos, as vidas de Jandira e Claudete são bem mais que um roteiro. Elas são reais. As duas se cruzam diariamente, pois trabalham numa pequena distância uma da outra Ontem foi dia de um duplo abraço, pelo aniversário de Jandira, e pelo sentimento de gratidão que as une no Dia Internacional do Doador. “Eu conto minha história para sensibilizar outras pessoas a também doarem, podemos dar vida a outras pessoas num gesto, numa autorização”.

Comissão faz campanha durante toda a semana

Nesta última semana, a Comissão Intra Hospitalar De Doação De Órgãos E Tecidos Para Transplante (Cihdott) do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) fez uma campanha ostensiva pro doação de órgãos.

Todos hospitais com mais de 80 leitos são obrigados, por lei, a ter uma CIHDOTT. A doação acontece após consentimento legal da família, sendo devidamente acompanhada por profissionais qualificados para esse fim. Estatísticas mostram que de 2009 a 2018, no HUOP, foram captados 10 Corações, 49 Fígados, quatro Pulmões, 157 Rins e 359 Córneas.

O Brasil é referência mundial na área de transplantes e possui o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de 96% dos procedimentos são financiados pelo SUS. Em números absolutos, o Brasil é o maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Os pacientes recebem assistência integral e gratuita, exames preparatórios, acompanhamento e medicamentos pós- transplante, da rede de saúde pública.

Conforme dados do Ministério d a Saúde, até setembro do ano passado havia 41.266 pessoas a espera de um transplante no país, esse número era de 44 mil pessoas em 2017. O rim é o órgão mais requisitado da lista de espera de transplantes, são 27.741 pessoas a espera desse órgão.

Dados da CET/PR (Central Estadual de Transplantes) mostram que mais de 2.000 pessoas aguardam na fila de espera por um órgão no Paraná.

Conforme dados do Ministério, 44% das famílias brasileiras rejeitam a ideia de doar os órgãos de um parente que recebeu o diagnóstico de morte encefálica. No Brasil, a autorização para a doação é concedida pelos familiares, o que reforça a importância de comunicá-los sobre a decisão de ser um doador. Mesmo com o alto índice de rejeição, o Brasil possui a menor taxa de recusa entre os quatro maiores países transplantadores da América do Sul, entre eles Argentina (49%), Uruguai (47%) e Chile (52%).

De acordo com a legislação brasileira (lei nº 10.211, de 23 de março de 2001), a retirada dos órgãos e tecidos para doação só pode ser feita após autorização dos membros da família. Mais informações podem ser obtidas pelo site http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/doacao-de-orgaos


Texto: Mara Vitorino
Fotos: Mara Vitorino

maes2 Easy Resizemaes
jandira Easy Resize

Publish the Menu module to "offcanvas" position. Here you can publish other modules as well.
Learn More.