Central de Notícias

Professor da Unioeste participa de descoberta de fósseis

12_04_2017_08_16_27_Easy-Resize.com-min_copy.jpg

Os professores Eliseu Vieira Dias da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste - Campus de Cascavel) e Fernando Antonio Sedor do Museu de Ciências Naturais, do Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná (SCB-UFPR), tiveram um estudo sobre uma fauna extinta, que viveu na região de Curitiba entre 42 e 39 milhões de anos, publicado no primeiro fascículo de 2017 do Journal of Mammalian Evolution, periódico norte-americano especializado em mastozoologia. Eles são coordenadores da equipe que realiza as pesquisas na região.

O artigo apresenta ao público fósseis de mamíferos encontrados em rochas da formação geológica Guabirotuba. Além dos mamíferos, esta fauna reúne também invertebrados, peixes, anfíbios, répteis extintos.

A área de pesquisa é conhecida a mais de duas décadas e tem sido usada para aulas de campo de geologia. Em 2010, o primeiro fóssil de vertebrado, um dente de um crocodiliano (parente dos atuais jacarés e crocodilos) foi encontrado pelos geólogos Antonio Liccardo, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e Luiz Weinschütz da Universidade do Contestado (UNC - Campus de Mafra). Eles apresentaram a localidade aos paleontólogos Eliseu Dias e Fernando Sedor que, assim que começaram a trabalhar na área, encontraram uma grande variedade de fósseis e reconheceram a importância dessa nova fauna extinta.

Dias e Sedor desenvolveram um projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) e então convidaram colegas especialistas, dentre eles Edison Vicente de Oliveira da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) que trabalha com marsupiais e xenartros, David Dias da Silva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Ana Maria Ribeiro da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB-RS) especialistas em ungulados, Luiz Alberto Fernandes e sua aluna Renata Floriano da Cunha especialistas em geologia sedimentar.

Sedor afirma que são poucas as localidades na América do Sul onde ocorrem fósseis com idade entre 66 e 23 milhões de anos, ou seja, do período geológico denominado Paleógeno. No Brasil, até então, só haviam sido encontrados fósseis de mamíferos continentais do Paleógeno em Itaboraí (RJ) e em Taubaté (SP).

Estas localidades estão historicamente interligadas, acrescenta o professor Eliseu Dias, pois durante a Era Cenozoica formou-se um sistema de vales de ruptura conhecido como “Rift Continental do Sudeste do Brasil”, que se estende por cerca de mil quilômetros desde o leste do Paraná até o estado do Rio de Janeiro. Este sistema de “rachaduras” originou várias pequenas bacias sedimentares, e uma delas é a Bacia de Curitiba, da qual a Formação Guabirotuba faz parte. Isso aconteceu após a separação entre a África e a América do Sul, quando o continente sul-americano ficou isolado como um “continente ilha” por mais de 60 milhões de anos e este longo isolamento geográfico propiciou o surgimento de uma fauna muito peculiar, com a evolução de formas endêmicas ou “nativas” da América do Sul. Dentre estes grupos endêmicos estão os xenartros, hoje representados pelos atuais tamanduás, tatus e preguiças, diversos grupos de “marsupiais”, de ungulados e também aves carnívoras gigantes.

O paleontólogo Fernando Sedor explica que os fósseis de mamíferos encontrados na Formação Guabirotuba em Curitiba, tais como o tatu Utaetus e o marsupial Nemolestes, apresentam semelhanças com outros encontrados na localidade de Gran Barranca na patagônica argentina, que também viveram no Paleógeno, entre 42- 39 milhões de anos, permitindo inferir a idade denominada Barrancano para a nova fauna. Em termos cronológicos, os fósseis de Curitiba representam um intervalo de idade que até então não era registrado para o Brasil.

Na Fauna de Guabirotuba havia animais que eram completamente desconhecidos, como a nova espécie de tatu primitivo descrita no artigo e denominada Proeocoleophorus carlinii, que, segundo Fernando, foi um tatu que atingia o tamanho de um tatu canastra, o maior tatu vivente. Foram encontrados ainda na Formação Guabirotuba fósseis de mamíferos ungulados, animais herbívoros que caminham sobre seus cascos. Neste caso estão representados pelos já extintos notoungulados, com formas desde muito pequenas como os interaterídeos até algumas que ultrapassam o porte de uma anta como os astrapotérios.

Dentre os marsupiais (parentes dos atuais gambás, cuícas e cangurus), foram encontrados fósseis de três gêneros extintos de sparassodontes, que eram predadores carnívoros dotados de molares cortantes e grandes dentes caninos que podiam atingir o porte de uma onça.

Marsupial Nemolestes

Por outro lado, na localidade de Curitiba havia marsupiais muito pequenos, que não ultrapassavam o tamanho de um camundongo. Fósseis de aves predadoras gigantes conhecidas como “aves do terror” (Phorusrhacidae) faziam parte da fauna. Possivelmente são as mais antigas registradas para a América do Sul e seus restos foram apresentados por Sedor e colaboradores no Congresso Internacional de Paleontologia em 2014 realizado em Mendoza, Argentina. Elas não voavam, eram dotadas de cabeça grande(veja figura) e alguns de seus parentes atingiram dois metros de altura, afirma Sedor.

Recosntituição Ave do Terror e marsupiais

Dentre os fragmentos fósseis de outros vertebrados destacam-se dentes de crocodilianos sebessuquídeos, animais que atingiram mais de três metros de comprimento e eram os maiores predadores da região naquela época.
         
Segundo o professor Eliseu Dias o clima de Curitiba a 40 milhões de anos atrás provavelmente já tinha predomínio de condições úmidas, porém com alternância de períodos secos, entretanto, a presença das tartarugas aquáticas indica condições ainda mais úmidas do que o proposto anteriormente por outros autores.

“Nós acreditamos que o achado destes fósseis da Formação Guabirotuba em Curitiba representa uma das mais importantes descobertas para o conhecimento do Paleógeno brasileiro, e são de grande relevância para se esclarecer aspectos sobre a origem e diversificação dos mamíferos sul-americanos” comenta o professor Eliseu Dias. Atualmente os pesquisadores discutem com órgãos competentes da Prefeitura de Curitiba, a forma mais adequada de preservação deste sítio, para que seja garantida a continuidade das pesquisas.

Publish the Menu module to "offcanvas" position. Here you can publish other modules as well.
Learn More.