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Pesquisa analisa o crime econômico entre jovens

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“Economia do Crime: uma análise para jovens criminosos no Brasil a partir de evidências empíricas”. Este é um dos projetos de pesquisa desenvolvido na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Toledo, pelo professor-doutor Pery Francisco Assis Shikida e abrange a área das Ciências Sociais Aplicadas.

Segundo o professor, o projeto teve início em 2000, mas a parte empírica do mesmo, financiado pelo CNPq, se desenvolveu em 2015, continua em 2016 e com término em 2017. A pesquisa é da área do mestrado e do doutorado do PGDRA/Unioeste, consistindo na análise do crime econômico a partir de dados primários obtidos via aplicação de questionários e entrevistas. O projeto vem sendo debatido em entrevistas na rádio local e apresentações e publicações de artigos

A pesquisa é voltado para análise de jovens réus (de 18 a 21 anos), já julgados e condenados por crimes econômicos, que atualmente cumprem pena em estabelecimentos carcerários brasileiros e que também praticaram delitos de natureza econômica antes de completarem a maioridade civil (18 anos), ou seja, tendo antecedentes criminais, evidenciando assim aspectos de sua delinquência juvenil. As questões do projeto são: o crime econômico compensa? Ser um criminoso econômico, no Brasil, compensa? Quais as causas e consequências da criminalidade econômica?

O professor Pery conta que “as entrevistas foram realizadas com criminosos que cometeram crimes econômicos (crime de roubo, seguido de latrocínio, tráfico de drogas, furto, estelionato, sequestro, extorsão, entre outros), portanto, não houve entrevistas com aqueles que cometeram crimes políticos. Até hoje foram entrevistadas 262 pessoas, que representam aproximadamente 32% do universo disponível. A amostra obtida foi composta por 80% de indivíduos do sexo masculino, que é maior no ambiente carcerário – 94% no Brasil e 95% no Paraná. Dois terços dos entrevistados eram reincidentes e, na maioria, no mesmo tipo de crime”.

As penitenciarias visitadas para o projeto foram a Cadeia Pública de Cascavel, Cadeia Pública de Foz do Iguaçu, Cadeia Pública de Toledo, Penitenciária Central de Piraquara (PCP), Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu (PEF), Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP), Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP), Penitenciária Industrial de Cascavel (PIC) e Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG).

Pery explica que com base no perfil do criminoso econômico, o projeto tenta combater o crime econômico. Suas discussões partem de dados primários dentro das prisões e, com base neles, podem ser traçadas políticas públicas para combater a criminalidade econômica. “Minha expectativa é que a sociedade veja esta realidade pela ótica da ciência econômica e não só pela visão da ciência criminal”, diz o professor.

Para o professor tanto as penitenciárias quanto os entrevistados são diferentes, logo, os resultados também são diferentes. No entanto, alguns resultados podem ser generalizados, vale frisar que dados das pesquisas indicaram que a dificuldade financeira, o desemprego e a necessidade de ajudar no orçamento familiar contribuíram para que uma parcela dos entrevistados praticasse crimes. “Assim, os motivos que levaram à prática do crime econômico são de cunho social, de natureza conjuntural/estrutural, ligados a causas individuais, geralmente consideradas de natureza socioeconômica e psíquica (cobiça, ambição, ganho fácil, inveja, indução de amigos, entre outras). Observou-se que a influência de “amigos” foi um fator determinante para fração dos entrevistados migrarem para o crime. Quando perguntado sobre a existência de algum parente e/ou conhecido próximo que tenha influenciado o entrevistado na prática do crime, constatou-se este tipo de influência. Outro aspecto importante a destacar é que a maioria dos entrevistados estava trabalhando na época da prática do crime. Contudo, a associação da criminalidade ao baixo nível de escolaridade foi confirmada”, enfatizou.

Pery salientou ainda que uma parcela menor dos indivíduos que cometeu crime conhecia a vítima, porquanto a maioria disse não conhecer as vítimas, porém, segundo as respostas dos entrevistados, os ambientes, os hábitos e as evidências externas de riqueza das vítimas eram considerados como “iscas” para a atuação dos mesmos. “Os dados das pesquisas demonstraram que a maioria dos entrevistados tinha alta percepção do grau de risco que estavam incorrendo quando da prática da atividade ilegal, pois para 42% o grau de risco era superior a sete (numa escala de zero a nove). Para 25%, o grau de risco oscilava entre quatro a seis, considerado risco moderado. Para os demais, o grau de risco era inferior a quatro. No entanto, para este grupo de entrevistados o risco não representava perigo, pois consideravam esta atividade “normal”. No geral, pode-se dizer que, mesmo tendo pouca escolaridade, a maioria dos entrevistados sabia do risco da atividade ilegal que estavam praticando. Quanto ao malogro ou sucesso na atividade ilegal, dentre os entrevistados cerca de um terço disse não ter obtido sucesso em sua atividade criminosa e dois terços obtiveram algum sucesso. O insucesso da atividade criminosa, segundo os entrevistados, decorreu devido a fatores como: dedo duro; a ação da polícia; e falha própria descuido, bobeira. Isto demonstra de certa forma, a fragilidade das organizações individuais e coletivas pesquisadas no tocante ao crime econômico como atividade ilícita, e/ou ressalta certa eficiência dos aparatos institucionais responsáveis pela repressão ao crime. Como destaque percebido na condução das entrevistas, o insucesso a que se refere o entrevistado não está correlacionado com a punibilidade, mas ao retorno econômico não alcançado”.

Os resultados também apontaram que, para 80% dos entrevistados, a atividade criminosa resultou em algum grau de sucesso, sendo que, para 20% destes, o retorno da prática criminosa atingiu o grau máximo igual a nove.

A equipe deste projeto é composta por Pery Francisco Assis Shikida (coordenador), os integrantes (professores doutores Cláudio D. Shikida, Ari Francisco de Araújo Junior, Marcelo Justus dos Santos, Luiz Guilherme da Silva Dakar Scorzafave) e os alunos de mestrado (Cleber Graef) e de doutorado (Alexandre Schlemper).

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