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Audiência relembra fatos ocorridos no Oeste do Paraná

A fim de esclarecer as graves violações de direitos humanos praticados no Estado do Paraná, no período de 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988, é que a Comissão Estadual da Verdade do Estado do Paraná e o Comitê Memória, Verdade e Justiça do Oeste do Paraná em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) estão realizando a Audiência Pública da Comissão da Verdade, pela primeira vez em Cascavel.

Esta Audiência, que  segue até sexta-feira (21) no Campus da Unioeste, conta com os depoimentos de ex-militantes e lideranças de movimentos contra o regime militar, vítimas de torturas e familiares, que contam à sociedade suas experiências vividas no período conhecido como “Anos de Chumbo”.

Na manhã desta quinta-feira (20), os depoentes eram de pessoas ligadas à Operação Três Passos, primeiro movimento armado contra a ditadura. Este movimento começou na cidade de Três Passos, Rio Grande do Sul, composto por camponeses, militares e profissionais liberais, cuja liderança estava sob o comando do então professor rural, Valdetar Antônio Dorneles. Após tomar delegacias de polícia, destacamentos militares e uma emissora radiofônica, o grupo foi capturado nas proximidades da cidade de Capitão Leônidas Marques, no dia 27 de março de 1965.

Segundo Valdetar Dorneles, hoje com 81 anos, mesmo após 49 anos, ainda pode ver as marcas deixadas pela ditadura. Marcas de cordas nos braços e pernas, resultado de torturas que começavam às 18 horas e terminavam às 10 horas do dia seguinte, durante os quatro anos que esteve preso. “Eu não aguentava ficar em pé”, relembra. Além de quatro anos de prisão, Dorneles viveu 24 anos de perseguição política e uma anistia recusada. Ele faz parte dos onze brasileiros que tiveram a recusa de anistia em 1979/1980. Ainda pela manhã, depuseram Clarissa Mertez e Abraão Dornelles, participantes da Operação Três Passos.

De acordo com a advogada e membro representante da Comissão Estadual da Verdade, Ivete Caribé da Rocha, devido ao grau de envolvimento da estrutura de repressão aqui no Oeste do Paraná, este é um dos eventos mais importantes do Estado. Com o lema “Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça”, segundo ela, o objetivo é inteirar a sociedade sobre o que realmente foi e como se deu a ditadura civil militar no Paraná e no Brasil. “A nossa função principal é fazer o levantamento dessas violações, transformá-la num relatório final e trazer isso para a sociedade porque a grande maioria, mesmo aquelas pessoas que viveram aquela época, não têm conhecimento da profundidade do que aconteceu”.

No período da tarde, os depoentes falaram sobre a repressão ao “Grupo dos Onze”, que surgiu no ano de 1963. Após ouvirem as conclamações de Leonel Brizola pela rádio, as pessoas, muitas delas agricultores, deslocavam de casa em casa buscando as assinaturas para a “lista dos onze companheiros”. Os objetivos desses grupos era a organização popular para defender conquistas democráticas e resistir a qualquer tentativa de golpe, mas que após o Golpe de 1964, foram objeto de intensa perseguição. Esses depoentes residem hoje na região de Barracão, Santo Antônio do Sudoeste e Capanema.

O segundo dia de Audiência, sexta-feira (21), será marcado pelos depoimentos de lideranças indígenas sobre violações ocorridas no período de ditadura. Relatos sobre queima de casas e ameaças e agressões físicas contra Guarani, em Ocoy, e Colônia Guarani, na região de Guaíra, com envolvimento de policiais, servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), na década de 70. Segundo eles, essas violências ocorreram no contexto da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu durante a administração da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Itaipu pelo coronel Nobre da Veiga e general José Costa Cavalcante.

No período da tarde, sobreviventes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) e da Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares), entre eles Aluízio Palmar, darão seus depoimentos. Os grupos de esquerda armada no Brasil foram formados, em sua maioria, por estudantes secundaristas e universitários e em menor número por militares de esquerda, de operários e setores progressistas da Igreja Católica. A opção pela luta armada ocorreu quando não havia mais espaço para contestação à ditadura pelos meios pacíficos e em consequência da instituição do Ato Institucional número 5 (AI-5). Surgindo, então, diversas organizações político-militares que desafiaram o regime e se tornaram importante forma de resistência ao arbítrio.

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