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IV Simpósio relembra 50 anos do Golpe Militar

Discutir os 50 anos do golpe militar de 1964, que serão completados no ano que vem, é um dos objetivos do IV Simpósio de Pesquisa Estado e Poder, que aborda a temática “Ditaduras e Democracias”. “É importante atualizar um tema importante e não deixar ser esquecido e também colocar em questão o que entendemos por democracia hoje em dia. Discutir não só teoricamente ditaduras e democracias, mas pensar o estado atual em que a democracia se encontra”, explica um dos coordenadores do evento, professor Márcio Both.

O evento, que começou ontem (20.08) e vai até quinta-feira (22.08), está sendo realizado no Campus de Marechal Cândido Rondon da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Nas conferências de abertura, o professor doutor Renato Luis do Couto Neto e Lemos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ministrou a palestra “Contra-revolução, ditadura e democracia no Brasil” e o professor doutor Enrique Serra Padrós, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) abordou o tema “Ditaduras e Terror de Estado no Cone Sul”. A palestra do professor Enrique, segundo Márcio, “foca não apenas só o período de ditadura no Brasil, mas também na Argentina, Uruguai, Paraguai, por haver um diálogo entre esses regimes ditatoriais que ocorreram em épocas mais ou menos semelhantes”.

Segundo professor Márcio, vale enfatizar que ditaduras e democracias devem ser discutidas no plural chamando a atenção para esse tema que não deve ser abandonado e silenciado. “Há um revigoramento dos movimentos que vêm a público buscar, a todo custo, que esse período não seja esquecido, as ações de abertura dos arquivos do período, pois há muita informação às quais os historiadores e a população não têm acesso e há muitos torturados e mortos que ainda estão desaparecidos”.

Ao todo são 124 comunicadores, representando 16 estados do Brasil, divididos em 31 sessões de comunicação, as quais são realizadas no período da tarde, totalizando cerca de 300 participantes. “A cada edição o evento vem se demonstrando um Simpósio que alcança uma repercussão maior”, comemora o coordenador do evento.

No período da noite os acadêmicos e pesquisadores tiveram a honra de receber dois ex-militantes, Aluízio Palmar (PCB, Dissidência Comunista do Rio de Janeiro, Movimento Revolucionário 8 de Outubro e Vanguarda Popular Revolucionária) e Alberto Fávero (Var Palmares) que fizeram relados da ditadura militar na região Oeste do Paraná, especialmente dos movimentos de resistência formados em Nova Aurora, Medianeira e Foz do Iguaçu.

Aluízio e Alberto relembraram os desafios, a criação do MR8 e da VPR, a preparação para a implantação de grupos de resistência à ditadura na região, as táticas, as prisões, as torturas que sofreram e os traumas que ficaram daquela época. “Nós sabíamos da desigualdade da luta, mas não havia outra forma. Já estávamos ‘queimados’, não podíamos voltar para as faculdades, nem para o trabalho e nem para a vida legal. A nossa única alternativa era voltar para a cidade e ficar fechados em aparelho (apartamento), então nós decidimos dar andamento à nossa proposta de luta”, relembra Aluízio. O grupo foi preso antes de desencadear o início das atividades de resistência. “A minha história é a guerrilha que não aconteceu”, finaliza Alberto.

Aluízio foi exilado, passando parte do exílio no Chile e Argentina. Voltou do exílio em 1979 e desde então reside em Foz do Iguaçu. Ao voltar para o Brasil ele começa uma incessante procura dos corpos do grupo da VPR comandado por Onofre Pinto. Esta investigação e seus resultados são relatados no livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, lançado em 2005, pela editora Travessa dos Editores. Alberto reside em Nova Aurora desde que saiu da prisão, exercendo atividades agrícolas.

Segundo o professor Márcio, os depoimentos dão à atual geração a oportunidade de conhecer a experiência de vida de pessoas que atuaram politicamente durante o período da ditadura militar. “Sai um pouco da discussão teórica e discute a prática de uma inserção social e política e passa a perceber também a importância das pessoas enquanto seres políticos, capazes de atuar em determinadas situações defendendo determinadas causas”, conta. “Os depoimentos possibilitam ver a vivência daquele momento histórico a partir de pessoas que efetivamente participaram desse momento”.

Na manhã de hoje, as mesas redondas abordaram a “Ditadura, democracia e a questão agrária”, com o professor doutor Vagner Moreira, da UNIOESTE, e com o professor doutor Paulo Zarth (unijuí), e “A democracia em processo”, com os professores doutores Gilberto Calil, Alfonso Klein e Cláudia Monteiro, da Unioeste, a qual discutiu experiências e embates concretos em torno do significado e do conteúdo social da democracia.

Programação

Na noite de hoje (21.08), as conferências serão sobre “A historiografia do Golpe e da ditadura”, com o professor doutor Demian Bezerra de Melo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e sobre a “Transição e Democracia”, com o professor doutor David Maciel, da Universidade Federal de Goiás.

Amanhã (22.08), o professor doutor Mário Maestri (UPF) ministra a conferência “Democracia e luta de classes no Chile de Salvador Allende”. Em seguida, a mesa redonda “A democracia em questão” será composta pelos professores doutores Danilo Martuscelli (UFFS), Clarice Speranza (UFPEL) e Geraldo Magela (Unioeste). Para o encerramento está programada a conferência “Capitalismo, luta de classes e democracia no Brasil Contemporâneo”, com a professora doutora Virgínia Fontes (UFF/Fiocruz).

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