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Palestra mostra impactos ambientais por uso de agrotóxicos

O 1º Colóquio sobre o uso dos agrotóxicos e impactos socioambientais, oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Biociências e Saúde (nível Mestrado) e o Grupo de Pesquisa em Políticas Sociais (GPPS), no Campus de Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) foi realizado ontem, no auditório do Campus.

O professor doutor Wanderlei Antonio Pignati, da Universidade Federal do Mato Groso (UFMT) palestrou sobre o tema “Implicações do uso dos agrotóxicos para a saúde humana e para o ambiente”. O palestrante participou de pesquisa realizada em dois munícipios do Mato Grosso para o levantamento de dados sobre alguns componentes ambientais, humano, animal e epidemiológico relacionados aos riscos dos agrotóxicos.

De acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), a cultura de milho e soja, foi responsável pelo uso de 55% do volume total de agrotóxicos em 2010. Segundo os organizadores do Colóquio estas informações servem de alerta para as regiões com grande produção de soja e milho como é o caso do Oeste do Paraná. Em 2010, a região Oeste foi responsável por 23,8% da produção de soja e 24,6% da produção de milho de todo o Estado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

O professor relata que dentre os vários impactos da cadeia produtiva do agronegócio, os de maior relevância para a saúde e ambiente são as poluições e intoxicações agudas e crônicas relacionadas aos agrotóxicos. “No processo agroquímico dependente, fazendeiros contaminam a lavoura, o produto, ambiente,  trabalhadores rurais e a população do entorno com o objetivo de atingir o alvo ou as ‘pragas’ da lavoura (inseto, fungo ou erva daninha), tratam-se de poluições intencionais e não ‘derivas’ que culpa o clima ou o pulverizador”, afirma.

Pesquisa

Segundo dados do IBGE, o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos, mas é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Somente no ano de 2010, foram utilizados 828 milhões de litros de agrotóxicos em lavouras. O maior produtor de soja, milho, algodão e bovinos, é o estado do Mato Grosso, porém é também o campeão nacional em uso de agrotóxicos nas lavouras. Nesse estado com 141 municípios, 54 possuem grandes monoculturas, produzem 70% dos produtos agrícolas e consomem 70% de agrotóxicos e fertilizantes químicos usados em grandes lavouras e pastagens, conforme pesquisa.

De acordo com o professor, todos os municípios do Mato Grosso possuem processos produtivos agrícolas, situação de saúde e ambiente semelhantes, para representa-los foram escolhidos os municípios de Lucas do Rio Verde e Campo Verde para se realizar pesquisas dos impactos dos agrotóxicos na saúde e ambiente. Segundo o IBGE este município contava com 37 mil habitantes, produziu em 2010 cerca de 420 mil hectares entre soja, milho e algodão e consumiu 5,1 milhões de litros de agrotóxicos nessas lavouras, principalmente de herbicidas, inseticidas e fungicidas.

Um dos impactos em Lucas do Rio Verde foi avaliado em pesquisa da UFMT e relatado em artigo e livro. O professor conta que este relato deu início ao movimento popular que denunciou a “chuva” de agrotóxicos sobre a zona urbana em 2006, quando fazendeiros dessecavam soja transgênica para a colheita com paraquat (herbicida utilizado no controle de ervas daninhas) em pulverização aéreas no entorno da cidade e uma nuvem foi levada pelo vento para a cidade ocasionando a “queima” de plantas ornamentais e de 180 canteiros de plantas medicinais no centro da cidade de 65 chácaras de hortaliças do entorno da cidade e desencadeou um surto de intoxicações agudas em crianças e idosos.

Resultados

A pesquisa foi realizada durante os anos de 2007 a 2010 em Lucas do Rio Verde pela UFMT e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi coordenada por Josino Costa Moreira que em conjunto com professores e alunos de quatro escolas, sendo uma escola no centro da cidade, outra na interface urbana/rural e duas escolas rurais. Alguns dos dados coletados demonstram:

- Que a exposição ambiental, ocupacional e alimentar foi de 136 litros de agrotóxicos por habitante durante o ano de 2010;

- As pulverizações de agrotóxicos por avião e trator eram realizadas a menos de 10 metros de fontes de água potável, córregos, de criação de animais e de residências, desrespeitando o antigo Decreto/MT/2283/09 que proibia pulverização por trator a 300 metros ou o atual Decreto/MT/1362/12 que proibi pulverização por trator a 90 metros destes locais e desrespeitando também à Instrução Normativa do MAPA 02/2008 que proibi pulverização aérea a 500 metros destes locais;

- Contaminação de resíduos de vários tipos de agrotóxicos em 83% dos 12 poços de água potável nas escolas e na cidade. Contaminação com agrotóxicos de 56% das amostras de chuva no pátio das escolas, e de 25% das amostras de ar no mesmo local, monitoradas por dois anos;

- A presença de resíduos de vários tipos de agrotóxicos em 88% das amostras de sangue e urina dos professores daquelas escolas, sendo que os níveis de resíduos nos professores que moravam e atuavam na zona rural foi o dobro dos professores que moravam e atuavam na zona urbana de Lucas R V;

- Contaminação com resíduos de vários tipos de agrotóxicos de 100% das amostras de leite materno de 62 mães que pariram e amamentavam em Lucas do Rio Verde em 2010;

- As incidências de agravos correlacionados (acidentes de trabalho, intoxicação, canceres, más-formações e agravos respiratório) aumentaram entre 40% a 102% nos últimos 10 anos, com nível 50% acima de incidência, destes anos.

- Não estava implantada nos Serviços de Saúde do município, a vigilância em saúde dos trabalhadores e nem das populações expostas aos agrotóxicos. Na agricultura a vigilância de resumia ao uso “correto” de agrotóxicos e recolhimento das embalagens vazias sem perguntar onde foi parar o conteúdo.

Solução

Segundo o professor as medidas a serem tomadas com urgência para contribuir na solução parcial desses problemas, são: o cumprimento da legislação, ser efetivada a proibição das pulverizações por aviões e o uso no Brasil dos agrotóxicos que são proibidos na União Europeia, extinguir os subsídios públicos destinados a esses venenos e implantar nos municípios vigilâncias à saúde dos trabalhadores, do ambiente e das populações expostas aos agrotóxicos. Além disso, o pesquisador destaca a importância de se investir na agroecologia “o Brasil é um grande produtor de alimentos orgânicos, mas que infelizmente são pouco consumidos por brasileiros, sendo exportados para outros países, como é o caso do café”, declara.

Em Cascavel, o professor sugere que seja criado um comitê de Agroecologia para realizarem movimentos por água e alimentos mais saudáveis. Após o debate os organizadores convidaram os participantes e as entidades presentes a apoiarem e atuarem na criação deste comitê.

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