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Projeto visa melhoramento de Quinoa para produção

Nem grão, nem vegetal. A quinoa é considerada um “pseudo” cereal, uma espécie da família Chenopodiaceae (a mesma família do espinafre e da beterraba) que vem sido cultivada há séculos por agricultores da região dos Andes, principalmente na Bolívia e no Peru. Devido ao alto valor nutricional da quinoa, os povos indígenas e pesquisadores a chamam de “o grão de ouro dos Andes”. As sementes de quinoa são isentas de glúten e têm todos os aminoácidos essenciais, oligoelementos e vitaminas necessárias para a sobrevivência.

É nessa perspectiva que há 3 anos o professor doutor em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa, e professor do curso de Agronomia do Campus de Marechal Cândido Rondon da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Edmar Soares de Vasconcelos, desenvolveu o projeto de melhoramento de quinoa, buscando obter uma variedade da planta que seja adequada às condições de cultivo na região Oeste do Estado do Paraná.

Segundo o professor, a característica de destaque dessa planta é o equilíbrio proteico que ela possui, sendo comparado ao existente no leite materno. “Devido ao excelente equilíbrio nutricional, a quinoa pode complementar a alimentação de humanos, aves e suínos com vantagem sobre outros alimentos vegetais quando empregados isoladamente”, explica.

Diversificando

No Paraná, cultivos repetitivos de produção de grãos são evidentes. Depois de soja e milho, com algum percentual de rotação, aparecem arroz, trigo, feijão, sorgo, milheto, girassol, numa proporção muito menor. “Há necessidade de abrir o leque de opções”, enfatiza. “Uma alternativa é a utilização da quinoa tanto no processo de rotação de culturas como num investimento de menor risco na época do Inverno, já que a quinoa é oriunda da região dos Andes, possuidora de tolerância a reduzidas temperaturas e ao estresse hídrico” - reduzida disponibilidade de água.

Mesmo diante de todos esses benefícios o cultivo de quinoa na região Sul do Brasil é incipiente e a disponibilidade de sementes é restrita para produção ornamental e adquirida via internet. Em busca de sementes para aquisição apenas foram encontradas sementes das populações Quinoa Real, Cherry Vanilla, Brilliant Rainbow e Quinoa Orange. Contudo, em nenhuma dessas qualidades conseguiu-se número de sementes satisfatório para cultivo em larga escala.

De acordo com Edmar, o fato de essas sementes serem oriundas, na maioria das vezes, de regiões bolivianas, com clima frio e seco, ela deve possuir grande potencial para suplantar a agricultura paranaense no período de safrinha, já que durante esse período as precipitações são em menor número e quantidade, e a temperatura média também é menor que a observada no restante do ano. Sendo possível, por meio de melhoramento genético, obter variedades com potencial de cultivo para a região Sul do Brasil.

O projeto

O melhoramento de quinoa é realizado e coordenado pelo professor Edmar, além dos graduandos Giovani Andreazza de Oliveira e Rafaela Goularte Amaral (bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq- e Fundação Araucária), e Jonas Francisco Egewarth, graduado em Agronomia e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Unioeste (bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes).

O objetivo, portanto, é avaliar o desenvolvimento comparativo de diferentes genótipos de quinoa, visando selecionar aqueles com potencial para comporem, no futuro, uma nova variedade, adaptada às regiões paranaenses. Para tanto, serão avaliados 17 genótipos de quinoa selecionados dentro das populações Quinoa Real, Cherry Vanilla, Brilliant Rainbow e Quinoa Orange, em Marechal Cândido Rondon e Entre Rios do Oeste, durante 2 anos de condução.

Segundo o professor Edmar, em setembro de 2010 foi realizada, então, a aquisição das sementes, todas foram adquiridas de viveiros credenciados que comercializam tais sementes com o intuito de produção de flores, dada a beleza ornamental das plantas. “As sementes adquiridas foram semeadas e conduzidas em casa de vegetação, gerando a produção de novas sementes colhidas separadamente, originando 100 genótipos com características distintas entre si”, revela.

No ano de 2011, durante o período safrinha (fevereiro a junho) foi implantado um experimento a campo para avaliar o potencial dos materiais gerados em 2010, sendo selecionados 40 materiais com características agronômicas que permitem seu cultivo em larga escala na região Oeste do Paraná.

Com os 40 materiais selecionados em 2011 foi montado um novo experimento de avaliação do comportamento agronômico, sendo selecionados 17 materiais para novos ensaios. Os 17 genótipos selecionados foram avaliados em 2012 sendo mantidos apenas 10 para novos estudos. Esses 10 materiais serão avaliados em Marechal Cândido Rondon e Entre Rios do Oeste em duas épocas de semeadura diferentes, no ano de 2013/2014, para que seja possível selecionar apenas os cinco melhores genótipos que serão avaliados em um número maior de locais visando identificar a adaptação e a estabilidade de produção dos mesmos.

Segundo o professor Edmar, na Bolívia a maior parte da colheita é realizada manualmente e no Peru a colheita também está sendo realizada por colhedoras adaptadas para colher sementes pequenas. No Brasil não há informações dos ajustes necessários para se realizar uma colheita com perdas reduzidas e sem danificar as sementes, o mesmo ocorrendo com o sistema de semeadura. “Estas são barreiras que os pesquisadores devem vencer para que os produtores tenham condições de mecanizar o plantio e a colheita da quinoa aqui no Brasil”.

Porém, o grupo de pesquisadores da Unioeste, já realizaram experiências com colheitadeiras. “No ano de 2012 foi realizada a colheita mecanizada, na qual foram colhidos aproximadamente 50 quilos de grãos. Contudo, é imprescindível a pesquisa em regulagem e adaptação de máquinas e equipamentos para potencializar e possibilitar a mecanização da cultura da quinoa, facilitando sua inserção dentro do atual sistema produtivo”.

Produção e Ano Internacional da Quinoa

A produção de quinoa aumentou de 20 mil toneladas nos anos 80 para as 100 mil em 2012. Os maiores produtores são a Bolívia, o Peru e o Equador. Dados revelam que a Bolívia produz em média 51 mil toneladas do grão por ano, Peru produz 46 mil e o Equador é responsável pela produção de 12 mil toneladas anualmente. Juntos, estima-se que os três países são responsáveis por 90% da produção mundial aproximadamente. Os outros países produtores não chegam a 10 mil toneladas de quinoa por ano.

Para divulgar a produção da quinoa e principalmente o consumo, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estipulou o ano de 2013 como o “Ano Internacional da Quinoa”. O objetivo é de popularizar a semente como suporte à vida que, segundo a ONU, pode ajudar a promover a segurança alimentar e a erradicação da pobreza, e acabar com a desnutrição.  É também uma forma de reconhecimento aos povos indígenas que preservaram a quinoa por meio do conhecimento e práticas tradicionais passadas através dos tempos.

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